Como foi o meu diagnóstico de Diabetes
- Carla Macagnan
- 18 de abr. de 2023
- 5 min de leitura
O Diagnóstico
Eu desenvolvi o Diabetes aos 13 anos - pelos sintomas, acredito que estava lá há cerca de 6 meses.
Quando fui diagnosticada, eu estava perdendo muito peso e sentindo muita sede.
Mas não fui levada ao médico logo de cara… depois de começar a apresentar esses e outros sintomas do diabetes, eu só fui ao médico 6 meses depois… por começar a reclamar da minha visão que estava muito embaçada.
Eu já havia começado até a usar uma lupa na escola para ler os meus livros… e por isso quando reclamei para os meus pais sobre o que estava sentindo, acharam que eu estava a penas querendo chamar atenção.
Continuei reclamando até que consegui que me levassem a uma consulta com o oftalmologista, que de fato não encontrou nada na minha vista. Mas ele solicitou um exame de sangue de check up - a pedido da minha mãe que estava começando a achar estranho que eu passava a noite inteira levantando pra fazer xixi, estava comendo o triplo do que comia e estava cada vez mais magra.
No exame deu 371 mg/dl de glicose no sangue em jejum.
Pra você ter uma idéia vou colocar a tabela de referência do que é considerado saudável aqui.

Uma curiosidade interessante, é que encontrei os resultados do meu exame no dia do meu aniversário… eu lembro de ver o 371mg/dl no exame de Glicemia em jejum, mas eu não tinha a mínima ideia do que aquilo significava.
Fui pra festa e comi doces normalmente! Mal sabia eu que aquele seria o meu último dia de vida antes do diabetes.
A Vida após o Diabetes
Apenas 1 mês após o diagnóstico, comecei a tomar insulina e a monitorar minha glicemia - não tão regularmente quanto deveria mas comecei.
Como toda criança, o início foi conturbado - afinal eu tinha apenas 13 anos e tudo estava mudando muito rápido.
A gente costumava sair todo final de semana, eu ganhava presentes e comia chocolates sempre que queria… eu era filha única então reconheço que era meio mimada. Tudo isso acabou… ou eu não podia mais ou o dinheiro que a gente usava pra esse lazer começou.a ser gasto em remédios, que na época não recebíamos pelo governo ou pelo convênio.
A gente nem sabia que tinha essa opção…
O Diabetes não afetou só a mim, afetou também aos meus pais. Que se viram com um desafio de criar uma criança rebelde (com suas razões) tentando fazer ela aderir ao tratamento que era o melhor pra mim.
Mas que criança faz o que os pais mandam né?
Minha adolescência foi conturbada e eles fizeram tudo o que podiam e sabiam fazer para me ajudar.
Eu nunca neguei minha condição, deixei de tomar o remédio e nem tive vergonha de ter diabetes, como sei que muitas pessoas têm.
Eu simplesmente não comia bem e não praticada atividade física. Consumia álcool, comia errado com frequência e só aplicava mais insulina depois - achando que isso seria o suficiente.
Não foi.
As primeiras complicações
Eu lembro de quando completei 26 anos de ter pensado que naquele momento, exatamente metade da minha vida eu tinha passado tendo diabetes.
Também foi o ano que desenvolvi os primeiros sinas da retinopatia, uma complicação da retina muito comum em diabéticos que pode levar a cegueira se não tratada. O tratamento no estágio inicial consiste de lasers que "queimam” pontinhos bem pequenos na retina a fim de estancar micro hemorragias. Tudo imperceptível e indolor.
Eu segui o tratamento do olho e o acompanhamento com o oftalmo. Mas não posso dizer que segui o tratamento adequado do diabetes.

Aquela famosa tríade que falei até agora: comer bem, fazer atividade física e tomar insulina corretamente.
A Retinopatia aos poucos foi ficando mais evidente na minha vida. Não só nas alterações do meu olho em si, mas também no meu dia a dia.
Consultas que eram anuais, tornaram-se semestrais, depois mensais. Tratamentos de 3 sessões, aumentaram para 6 sessões, até que reduziram para uma sessão intercalada com uma consulta, praticamente quinzenal.
Em paralelo a tudo isso eu mudei. Já era um pouco tarde, mas nunca é tarde para mudar é o que dizem né?
A Mudança
"Mudar não é difícil. Leva apenas 1 segundo. O difícil é manter a mudança dia após dia até o final de nossas vidas. Um dia de cada vez.˜
A Mudança não veio sozinha. Foi uma construção.
Tive ao meu lado minha família e meu marido Daniel, namorado na época, que sempre me apoiaram.
O Daniel foi um agente de mudança na minha vida. Ele jamais se contentou com o tratamento que eu fazia, queria sempre um melhor.
Ele me perguntava a toda hora quanto estava minha glicemia, se eu tinha tomado insulina, se eu tinha comido e se eu estava me sentindo bem. Perguntas que meus pais me faziam quando eu era adolescente, mas que eu achava que pegavam no meu pé, ficava emburrada e me trancava no quarto.
Agora eu sabia que era uma forma de amor. E que tava na hora de eu aceitar e receber o amor.
Tinha medo de ficar cega, de perder um membro, de caírem todos os meus cabelos e de me cortar e o machucado não fechar.
O mundo ficou mais perigoso ou meu corpo ficou mais fraco com o passar dos anos?
Acho que sabemos a resposta.
Eu era digna de receber cuidados, não era mais tão forte quanto era quando criança. Eu precisava de ajuda se queria viver bem até os 80 anos.
E essa mudança veio de verdade após os 30, hoje já tenho 34 anos.
Um novo olhar sobre o Diabetes
Como eu disse, toda essa mudança veio mais tarde do que deveria e eu não consegui evitar complicações mais avançadas da Retinopatia. Mas sempre poderia ter sido pior.
""O melhor dia pra mudar foi ontem. O segundo melhor dia é hoje.
E como eu disse, essa reconstrução de mim e da minha percepção do mundo levou um tempo e ainda continua.

Eu estudei mais sobre Diabetes e conheci melhor como ela me afeta.
Eu comecei a estudar Nutrição, a fazer acompanhamento com uma Nutricionista e a fazer Contagem de Carboidratos.
Eu comecei a ir na academia.
Eu mudei meu tratamento com as canetas de insulina para a Bomba de Insulina.
Eu criei um Instagram para falar de Diabetes e compartilhar minha rotina.
Eu criei a loja Diabetes Todo Dia.
Eu criei o Programa Glicada Perfeita, para ajudar outros diabéticos como eu a ressignificar o Diabetes.
Eu criei esse Blog e um canal no Youtube para compartilhar conhecimento de forma gratuita.
Eu transformei o Diabetes no que ele realmente é - o centro da minha vida. Mas não de uma forma negativa.
Todos os passos que dei me tornaram uma pessoa melhor, mais saudável, mais forte e mais confiante. E vou mais longe - mais saudável do que muitas pessoas que não possuem diabetes.
Eu não acho que todo mundo que tem diabetes deva transformar o Diabetes no centro da sua vida, cria loja, criar instagram nem nada disso… mas eu acho que todos precisam entender que o Diabetes nada mais é do que uma condição que limita nossas escolhas a escolhas mais saudáveis. E quando a gente não faz as escolhas saudáveis, a gente sente consequências instantâneas.
Ao contrário do restante da população, que muitas vezes só vai sentir a consequência de uma vida sedentária e de maus hábitos alimentares quando estiverem mais velhas… idosas… quando é muito mais difícil pro nosso corpo responder a mudanças positivas.
Nunca é tarde pra mudar, mas quanto antes isso acontecer melhor!
Informação e auto conhecimento são essenciais nessa jornada que a gente nunca vai se sentir pronto pra fazer, mas vai ter que fazer assim mesmo.
Não é uma escolha que o diabético tem, ter ou não ter diabetes. Nossa escolha é viver bem ou mal como diabetes.
E não pense que só a gente que sofre as consequências. Quem nos ama também sofre junto - por nos ver sofrer e por ter que nos levar ao médico já que a maioria dos procedimentos precisa de acompanhante…
"Crescer significa pensar no todo antes de pensar só no que a gente quer. Quem faz tudo que quer, se torna escravo dos seus desejos."
E o que você achou desse post? Manda uma mensagem pra eu saber se consegui te mostrar que é possível ter Diabetes e uma vida saudável - até mais saudável do que quem não tem diabetes.
Comments